Nossos alunos estão sofrendo e ninguém percebe. A televisão vem, ao
longo dos anos, dando ênfase aos transtornos, síndromes e distúrbios,
procurando mostra-los de forma romântica e quixotesca e sem nenhum laço
com a realidade na qual vivem pais, familiares e a própria pessoa
deficiente.
Vimos nos últimos anos alusões às doenças psiquiátricas e ao autismo, mas nunca da maneira que deveria ser abordada.
Mas e a dislexia? Não se falou mais dela, e antes, quando
todos os alunos com problemas de aprendizado eram "disléxicos", agora
eles são "TDAH". São os problemas da moda, da estação.
O disléxico vem sofrendo ao longo da história por diversos
motivos, mas hoje, pelo descaso e esquecimento. Pela facilidade em se
medicar pessoas e não trata-las como deveriam.
O disléxico demonstra sua dificuldade em se adaptar à
metodologia de ensino pelo comportamento. Em geral tornam-se agressivos,
contestadores e rebeldes pelo simples fato de não compreenderem suas
limitações e de não encontrarem aqueles que o faça. Assim, na maioria
das vezes a escola encaminha esse aluno ao psiquiatra ou neurologista
onde ele será medicado, receberá um CID 10 (código internacional de
doenças) e sairá de lá com uma receita de ritalina, carbamazepina,
haloperidol, rivotril ou outra medicação qualquer. Mas suas angustias,
anseios e principalmente a sua dor de se sentir excluído e incapaz
jamais será tratada.
Todos olharão para aquele aprendente como deficiente
intelectual de leve a moderado. E ele continuará seu caminho carregando o
estigma da incapacidade.
Devemos parar a educação. Devemos parar de tentar criar novas
maneiras de usar a velha metodologia que, já sabemos, não deu certo.
O aprendente não é um motor fabricado em série. Ele precisa
de algo que o mobilize, que o estimule a querer construir seu saber.
Precisamos olhar esse aprendente além do muro das escolas, do
uniforme escolar, do seu desempenho nos sistemas tradicionais de
avaliação e parar de querer que todos sejam iguais e aprendam da mesma
forma. Balela.
Há mais de 5 décadas a humanidade não descobre ou inventa
nada novo. Estamos vivendo a Idade das Trevas da Intelectualidade, da
Ciência, do Livre Pensar.
E deixamos à deriva, como o menino Pi em seu naufrágio com o Tigre, todos os aprendentes que necessitam de um olhar além.
A dislexia não é um transtorno simples de ser identificado,
seu diagnóstico é excludente, se baseia em sintomas que a pessoa não
apresenta. Caracteriza-se principalmente pela grande dificuldade em
discriminar símbolos e signos.
Segundo a ABD – Associação Brasileira de Dislexia:
"A Dislexia do desenvolvimento é considerada um transtorno específico de aprendizagem de origem neurobiológica, caracterizada por dificuldade no reconhecimento preciso e/ou fluente da palavra, na habilidade de decodificação e em soletração. Essas dificuldades normalmente resultam de um déficit no componente fonológico da linguagem e são inesperadas em relação à idade e outras habilidades cognitivas. "
Quando o aprendente sinaliza, ainda no ensino básico, suas
dificuldades em discriminar sons, letras ou símbolos, deve-se pensar que
essa criança pode ter dislexia, é nessa hora, que uma equipe
multidisciplinar avaliará essa criança e, caso seja confirmada sua
dificuldade, ser trabalhada de forma a vencê-las e a conviver com ela
harmonicamente.
Grandes personalidades foram consideradas disléxicos, o que
demonstra que, além de inteligência acima da média, os disléxicos podem
vencer suas dificuldades e construir uma vida de sucesso e vitorias.
Não há comprovação de que alguns destes históricos personagens eram, de fato, disléxicos, mas os relatos existem:
Hans Christian Andersen, além de outros livros infantis é
autor de O Patinho Feio, história que bem reflete estados psicológicos
de um disléxico severo, sua baixa autoestima, a consciência de seu
potencial. Esse livro foi traduzido em muitos idiomas através de quase
todo o mundo. Por causa de sua severa disgrafia, suas histórias foram
ditadas a um escriba.Andersen teve sérias dificuldades na escola e,
durante toda a sua vida, não conseguiu aprender a soletrar e a escrever
em sua língua nativa.
Cher, cantora e atriz: "Meus dias na escola foram muito
difíceis. Eu só conseguia aprender quase tudo, através de meu canal
auditivo. Por isto, em meu boletim sempre constava a seguinte
observação: "Não se valeu de todo seu potencial para aprender".
Agatha Christie, escritora: "Eu, por mim mesma, sempre me
reconheci ...como a 'mais lenta' da família. Isto era inteiramente uma
verdade e eu sabia disto e aceitava isto".
Winston Churchill: "Fui totalmente desestimulado em tudo, em meus dias de escola. E nada é mais desencorajador do que ser marginalizado em sala de aula, o que leva a nos sentirmos inferiores em nossa origem humana".
Winston Churchill: "Fui totalmente desestimulado em tudo, em meus dias de escola. E nada é mais desencorajador do que ser marginalizado em sala de aula, o que leva a nos sentirmos inferiores em nossa origem humana".
Tom Cruise, ator: "Eu tinha que treinar a mim mesmo para
concentrar minha atenção. Assim, me tornei muito visual e aprendi como
criar imagens mentais para poder compreender o que lia".
Leonardo da Vinci, artista, escultor, cientista: "Você
poderia preferir um bom cientista sem habilidades literárias, a um
literata sem conhecimentos científicos".
Thomas Alva Edison, o maior inventor de todos os tempos: "A mais satisfatória forma de arrebatamento é pensar, pensar e pensar".
Albert Einstein, um dos maiores cientistas de todos os tempos:
"Quando eu lia, somente ouvia o que estava lendo, e era incapaz de
lembrar a aparência visual da palavra que lia".
Danny Glover, ator: "As crianças faziam piada de mim por
causa da minha pele negra, de meu nariz grande, e porque eu era
disléxico. Já como ator, demorou um longo tempo para que eu pudesse
entender por que as palavras pareciam misturadas em minha mente e eu
aspronunciava de maneira diferente".
Whopppi Goldberg, atriz: "Minhas lembranças da escola não são
minhas coisas favoritas...Nós não somos estúpidos - nós temos uma
deficiência e essa deficiência pode ser superada".
Magic Johnson, jogador americano de basquete: "Os olhares, as
celebridades, os sorrisos...Eu queria mostrar a cada um que podia fazer
o meu melhor, mas, também, que eu era capaz de ler".
O grande sofrimento do disléxico não está em sua inabilidade,
mas na maneira como professores, colegas e educadores comportam-se
diante deles. Eles se sentem incompreendidos e excluídos, se sentem
incapazes e desmerecedores de um lugar na escola. Quando não encontram
alguém que os entenda o disléxico tende a se tornar rebelde, agressivo,
intransigente, questionador e isso o leva a diagnósticos de Transtorno
Opositor recebendo mais um estigma para carregar consigo.
Em minha experiência encontrei diversos aprendentes com esse
diagnóstico e que era, apenas, disléxico. Tive a felicidade de
encontra-los e reconhece-los, mas a maioria ainda não teve a felicidade
de encontrar alguém que os reconhecesse e ajudasse.
A ânsia em nomear o "diagnóstico" dos alunos "problemáticos"
leva a escola, professores e pais a impaciente estratégia de rotular e
medicar. Assim, grande parte dos disléxicos não conseguem encontrar
ajuda e seguem suas vidas rotulados como opositores.
Preste atenção ao seu aluno, olhe além dele, além daquilo que
ele aparenta ser, permita-se conhece-lo e perguntar a ele mesmo quais
são as suas dificuldades e medos.
Webgrafia consultada:
www.dislexia.com.brwww.dislexia.org.br
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